Pilar - Esclareço que, além de esposa (e não viúva), presido a fundação José Saramago, que tem como objetivo seguir insistindo naquilo que Saramago considerava seu dever: aprofundar os valores cívicos fundamentais para tornar humana a vida que para tantos é desumana.
CINETOTAL - Como foi ter sua privacidade "invadida" por uma câmera que captavA
todos os momentos preciosos de um casal que, outrora, apenas portas e paredes conseguiam testemunhar?
Pilar - Não, não nos invadiram, abrimos as portas. E nos comprometemos a responder, como sempre se fez nas entrevistas em minha casa, sem falsificar a realidade ou atuar frente a uma equipe de filmagem. Se tínhamos que ir a algum lugar, íamos. Se não, estávamos em casa e eles registravam a passagem do tempo. Quando queriam filmar enquanto trabalhávamos, filmavam: não rompíamos nossa rotina de trabalho nem de vida por termos a equipe de Miguel por perto e nem nos sentíamos invadidos. A presença de câmeras não fez com que nos maquiássemos ou nos vestíssemos de outra maneira. Não fomos outros por ter uma lente perto de nós e isso se reflete no filme, a sinceridade que transborda e que prende o telespectador acontece por causa da ausência de fingimento, da verdade com quem sempre vivemos em minha casa, uma casa livre de amarras e de convencionalismos. Pelo contrário, se Saramago tivesse sido um espírito menos livre, não teria escrito os livros que escreveu na idade em que os escreveu. Lembro que ele morreu com 87 anos, que trabalhou até o último dia e sempre fazendo perguntas e examinando assuntos fundamentais.
CINETOTAL - Por acaso teve alguma situação que você pediu que não fosse filmada
ou, por acaso, teve algo que foi filmado e depois vocês acharam melhor não entrar no filme?
Pilar - É evidente que não queria que nos filmassem no hospital, mas Miguel também não propôs isso, de maneira que não há problemas. Foram sempre muito respeitosos, e, por serem respeitosos, abrimos as portas de nossas casas. Com uma outra equipe, que talvez não tivesse o objetivo de retratar, mas sim de bisbilhotar, de se prender à superficialidade das coisas, como a decoração, por exemplo, nunca a deixaríamos passar. Esta equipe que o Miguel dirigia chegou na minha casa buscando um espírito, de onde nascia a força criadora de Saramago e como ele se sustentava. E conseguiu encontrá-lo.
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